segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Muitas vezes falamos que temos necessidade de arrumar algumas coisas na nossa cabeça, colocar uns assuntos por ordem, ou, como dizem os psicólogos, colocar a roupinha nas gavetas de uma forma ordenada de modo a que para chegarmos a um ponto racional que poderá demorar 2 minutos não levemos 2 horas a fazê-lo.

Este arrumar de gavetas não é nada mais nem menos que a prática de um tipo suave de meditação. Porém hoje fala-se de meditação como quem come um hambuger. Tal poderá evidenciar-se como um erro correndo o risco de não passarmos de uma fase que nem pensamento elaborado é quanto mais meditação. Até porque a meditação implica a maior parte das vezes e eliminação de todos os pensamentos, funcionando como que um diurético cerebral.

Quando as pessoas começam a praticar a meditação é frequente dizerem que os seus pensamentos se agitam em torvelinho e se tornam muito mais desordenados do que antes. É necessário tranquilizá-las informando de que se trata de um bom sinal. Em vez de significar desordem, isso revela apenas tranquilidade e uma tomada de consciência da agitação constante dos pensamentos, que sempre foram assim. Não se deve desistir por este motivo. Independentemente do que nos ocorrer ao espírito, deveremos manter-nos presentes voltando a fixar-nos na respiração, mesmo no meio da hipotética confusão.

Nas instruções de meditação que provêm de há muitos milhares de anos, dizia-se que os pensamentos surgiam amontoados uns sobre os outros, sem interrupções, tal como uma catarata de montanha, mas gradualmente, à medida que nos aperfeiçoamos, eles passam a ser como água numa profunda e estreita garganta, como num grande rio a avançar lentamente para o mar, e por fim a mente torna-se num vasto e plácido oceano, agitado apenas por uma onda ocasional. Por vezes, as pessoas pensam que quando meditam não deveriam existir pensamentos ou emoções e, quando estes surgem, aborrecem-se e irritam-se consigo próprias, pensando que falharam. Nada pode estar mais longe da verdade, pois há um ditado tibetano que diz : “É absurdo pedir carne sem ossos e chá sem folhas.” Enquanto tivermos mente, existirão sempre pensamentos e emoções.

Assim, deverá ser através da meditação que devermos “arrumar” as nossas gavetas cerebrais, no sentido de mais facilmente deixarmos fluir a razão e por incrível que pareça, as emoções através dela.

A meditação, como processo crescente de autonomização do espírito e consequentemente do corpo, é uma das soluções apontadas para o reforço da auto-estima das pessoas que sofrem de solidão compulsiva ou opcional. Servirá para reforçar o sistema emocional a travar sentimentos de solidão e desapego, assim como curiosamente e com o esforço necessário, ajudará a pessoa a construir uma barreira gélida à entrada de estranhos que venham com intenções e emoções menos dignas. Não significa tal o esfriamento emocional, mas tão só uma defesa imunitária que impedirá que a já tão profunda solidão em que muitos se encontram caia num buraco sem fim e leve à tradicional depressão.

No tipo de sociedade em que vivemos, cujos princípios e ética são basicamente materialistas e em que se dá valor a quem tem é não a quem é, registam-se diariamente casos de psicose e neurose profundas por motivos de frustração, abandono e solidão. É aliás um processo gradual. A pessoa verifica a certo ponto da sua vida que os objectivos traçados não serão conseguidos por motivos endógenos ou exógenos. Cria-se um ciclo ansioso que inevitavelmente levará o indivíduo a pedir ajuda material ou psicológica. De qualquer uma das formas a dívida financeira será uma realidade. Após o seu ciclo de amigos e companheira(o) realizarem que há decadência do processo, voltar-se-ão para outros casos de sucesso, deixando o doente (já neste caso) numa situação de abandono e progressiva solidão. Este é um caso que provém da frustração. Outros serão provenientes da não aceitação da pessoa como ente sentimental e ainda outros virão do abandono por parte do companheiro(a), como resultado da sua queda no ranking de prioridades deste(a).

Por tudo isto se torna importante meditar e criar uma barreira alta à entrada da solidão nas nossas vidas de modo a que já nem uma palavra de aconchego seja suficiente para reverter o processo.

José Carlos Lucas

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