“Lendas de Paixão”.
Um filme que me marcou quando saiu e que ontem tive a oportunidade de rever num canal de cabo, agora que se aproxima a entrega dos Óscares referentes aos trabalhos produzidos o ano passado. Quando o vi pela primeira vez fiquei surpreendido não só pelo excelente desempenho de A.Hopkins e Brad Pit mas acima de tudo por uma das mensagens passadas : na vida há um tempo para tudo, em particular para dois estados que podem afinal resumir a essência do ser humano. O tempo da sociabilidade, quando o corpo nos transmite sinais de quietude, de sedentarismo. Procuramos a estabilidade de uma companhia – independentemente da orientação sexual – que nos preencha o vazio da solidão, nos traga a calma de um mar chão. É o tempo da reprodução, da preservação da espécie, do trabalho comunitário, da transmissão de valores e princípios aos descendentes, se os houver, ou à comunidade numa partilha dinâmica. É quando o “tubarão” que está dentro de nós – no filme era um urso, mas eu gosto mais de tubarões – adormece e procura um refúgio entre duas rochas para uma hibernação suave. Por norma, são tempos de paz, sem procura incessante de mais um pouco de terreno, sem a vivência da posse que leva ao turbilhão da matança indiscriminada.
Chega porém uma altura em que o tubarão move a cauda. Os seus olhos imóveis nunca se fecharam à envolvente e o corpo começa a dar sinais de energia. Gradualmente começa a ter consciência de que há vida para além do espaço limitado para a hibernação e num impulso violento sobe para águas que domina. O mesmo acontece connosco. Só com um senão : o tubarão não tem balizas sociais, invenções legais, preconceitos passados ao longo de gerações e que nunca ninguém questiona. O tubarão procura alimento sem olhar a meios, procura dominar como um fim
José Carlos Lucas