Natal.
Por esse mundo fora é Natal.
No mundo Ocidental pseudo desenvolvido, celebra-se a mentira do nascimento de Jesus (o Cristo) enquanto os flocos de neve caem junto às estações de metro onde dormem milhares de sem abrigo e desprotegidos que o Deus cristão resolveu castigar, perguntam eles porquê. Nas mais recônditas aldeias e perante uma fome visível, celebra-se o Natal. À luz das velas ou do candeeiro a petróleo, que o advento da electricidade ainda lá não chegou.
Zamir chegou com a pouca farinha que coube hoje à sua família, que espera letargicamente num campo de refugiados pela paz que o Deus natalício se esqueceu de ensinar ao Homem, feito por si à sua imagem.
O Natal chegou enfim aos hospitais por esse planeta de Deus, onde a miséria e a doença não deixam esconder a maldade divina, a falta de sorte segundo os humanos, mas a realidade de um sofrimento atroz que inunda milhões de corações que sangram, que choram e se questionam - como Madre Teresa por fim o fez - o porquê de termos um Deus tão incompetente que não conseguiu espalhar a bondade pelo mundo e deixou ao Homem o livre arbítrio de o fazer, sem qualquer sucesso. O que não admira. Somos humanos, podemos ser maus e bons.
O Natal chegou até mim.
Recuei 30 anos no tempo. Passo a noite de Natal com os meus pais, afinal os únicos que sempre ao meu lado estiveram, nos bons e maus momentos, substituindo com um enorme sacrifício o Deus que amam, mas falíveis como são, não conseguiram passar a mensagem. Seremos de novo três como 30 anos atrás. Mais velhos, mais serenos, mas mais sós. O primeiro Natal sem os meus filhos, espoliados da minha presença por gente sem princípios e de uma maldade sem precedentes. O primeiro Natal sem os meus filhos desde à 17 anos. Passo o Natal com quem amo. Os meus pais. Mas quem amo não quer passar o Natal comigo.
Há muito tempo que os meus pais não passavam o Natal comigo. Nem se importariam de não o fazer se soubessem que eu o passaria com que me quer e ama. Isso é o amor paternal que nada substitui. Mas quem amo também tem família e esta é a época da família segundo dizem. O Natal impõe que as estruturas se voltem a juntar. Umas num perpétuo contínuo que nada nem ninguém pode abalar, outras voltando às origens. Quem amo tem família, como sempre teve e terá. Juntar-se-ão como sempre o fizeram à volta de uma mesa farta e darão as mãos
Desejo a todos os cristãos um feliz Natal.
José Carlos Lucas
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