A semana passada falaram-me numa frase que já não ouvia faz anos : “uma vida pacata”. Com a velocidade que imprimimos aos nossos dias e à nossa vivência, deixámos de ter espaço para pensar que alguma vez podemos ter essa vida simples e tão pacata nas urbes em que vivemos. Por vezes ouvimos dizer que no campo, no interior tal é possível existir e ainda se conseguem encontrar especimens que são disso capazes. Mas depois olhamos à nossa volta e não conseguimos discernir como o poderíamos fazer nas grandes cidades. Até porque nas sociedades ocidentais “desenvolvidas” ter uma vida simples e pacata é sinónimo de pobreza e estagnação. Quem o procura diz-se que não tem ambição e mais tarde ou mais cedo será devorado na selva urbana, complexa e competitiva dos grandes aglomerados económicos.
Porém, ultimamente as circunstâncias com que a minha vida se deparou fizeram-me ver que ainda podemos alcançar essa pacatez quiçá perdida nas calendas dos tempos.
Todos um dia temos de dar um rumo à nossa vida. Esse rumo encontrei-o na simplicidade de uma vida frugal, procurando evoluir profissionalmente de um modo gradual ao mesmo tempo que tento alternar com acções em que possa juntar o conhecimento, o saber e a dádiva ao próximo, tentando “curtir” a minha casa e todos os atributos que me fizeram nela investir, enfim, saindo o quanto a educação in loco de um filho de quase 18 anos e à distância de uma rapariga de 15 anos me permitem. Como durante a minha fase de casado praticante fiz muito poucos amigos, deparo-me com uma solidão suave mas que por agora já consumiu dias piores.
Paralelamente, tenho uma relação de “namoro” com uma pessoa que amo. Como a situação matrimonial de ambos é burocraticamente ridícula, vemo-nos espaçada e calmamente, esperando que um futuro juntos seja uma realidade a longo prazo. Com calma, sem pressas e acima de tudo com uma fleuma “very british”.
Levantar, pequeno almoço, trabalhar, passar a noite com os meus filhos e uma ou duas vezes por semana com a namorada, sem stress, poder-se-á chamar a isto uma vida pacata? Creio que sim. Mesmo quando aparecem problemas de circunstância, desejo e quero enfrentá-los com a simplicidade dos sábios e a racionalidade suficiente para que não haja situações de stress acumulado.
Isto não significa que possamos todos fazer o mesmo, mas se tentássemos usufruir um pouco mais das situações poucos desejáveis em que nos encontramos, talvez as entendêssemos um pouco melhor e fossemos capazes de mais rapidamente sair delas.
Com pacatez,
José Carlos Lucas
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