segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Não se pode dizer que seja um despertador. A era dos despertadores pertence a um passado não muito longínquo. Hoje usam-se telemóveis para nos despertar, para nos avisar que deveremos fazer algo, como máquina fotográfica e espantemo-nos, até serve de telefone. O meu é um companheiro inseparável e pelas 7:30 h da manhã lá está a chamar por mim com uma música suave e se adormeço, vai-me relembrando de 5 em 5 minutos que o soninho terminou e o banhinho está à espera. Pena não me preparar o banho nem o pequeno almoço.

Tenho como hábito não sair da cama sem preparar mentalmente o meu dia, ou seja, relembrar o meu próprio cérebro de que existem “x” tarefas para fazer e por vezes vou um pouco mais longe, tentando de imediato resolver algumas. Desde Junho ou Julho do ano passado que comecei a ter a necessidade de prolongar a minha meditação matinal. Por mais uns minutos e até hoje o faço, indago o porquê de acordar sem ninguém a meu lado. Claro que, sabendo que a minha futura ex-mulher me abandonou não poderia esperar outra coisa, a menos que tivesse um orçamento desmesurado para “acompanhantes”, o que não é o caso, nem faz o meu género. Todavia, alguém preencheu o meu coração há já algum tempo e seria em princípio esse alguém que lá deveria de estar.

Existem sempre dois modos de se procederem a transformações nesta vida e isto aplica-se a todo e qualquer pedacinho de ser humano existente no planeta. A transformação por via “revolucionária” ou “radical” e a transformação por via “reformadora”.

Tenho por hábito dar um exemplo elucidativo do que significa para mim uma e outra. Imaginemos uma casa portuguesa, pequena, velha, pobre e humilde como gostava Salazar e o desafio de a transformarmos numa casa completamente diferente, atraente e nova. A via reformadora de se conseguir este objectivo diz-nos que deveremos manter a casinha velha, mas rasparemos as paredes interiores e exteriores, consertamos umas janelas e caiamos de branquinho. Ora aí está uma casinha bonita, atraente e em que dará gosto viver. Todavia e se verificarmos bem, continua a ser uma casa pequena, pobre, humilde e velha, na qual aplicámos um “new look” e só por fora se vêm as diferenças. Por outro lado, a via mais radical diz-nos que acima de tudo a casa é velha e uma verdadeira transformação implicará sempre a sua destruição e a consequente construção de uma nova. Aqui, nesta, já se podem utilizar materiais mais modernos de modo a que obtenhamos não a mesma casa, mas algo diferente para melhor : uma casa à nossa dimensão, nova, diferente e arrojada. Terá com certeza custos mais altos, mas durará muito mais que a outra e não haverá o perigo de se desmoronar.

O mesmo acontece quando os casamentos terminam e surgem novas relações. Podemos enveredar por processos de divórcio lentos, chatos, complicados, com advogados no meio, onerosos e muitas vezes desgastantes porque nada depende de nós mas sim de um juiz idiota qualquer que não se está para chatear com coisas que não implicam o aumento da sua riqueza pessoal (via reformadora), ou então remamos contra tudo e todos e desafiamos a lei em nome de um sentimento tão nobre como o amor. Claro que esta via, mais radical, implicará discussões com os ex-futuros conjugues, problemas com os filhos e o abdicar de mordomias que se tinha enquanto casados. Mas é o preço a pagar por algo novo, fresco, rejuvenescedor e acima de tudo uma luta conjunta em busca da felicidade. Esta é a via que poucos escolhem em virtude de não quererem perder os benefícios da sua antiga vida, nem terem realmente optado por assumir uma relação nova. Enquanto a permanência na antiga casa e a convivência com o marido/mulher não for desgastante, a coisa vai andando ao sabor do Sr Dr Juiz, sem se pensar que também a nova relação poderá ser desgastada desde o seu início, nascendo assim com graves problemas no seu sistema imunitário.

Ponderando estes factos apresentados, fico todos os dias a pensar porque acordo sozinho e sinceramente ainda não entendi. A opção da via reformadora foi um facto que até agora só tem trazido injustiça, dor, solidão e instabilidade. Não houve a opção de lutar. Cedeu-se a preconceitos errados e à falsa legalidade. Porque não se terá pensado que o amor pode arrastar montanhas? Porque não se terá optado por enfrentar de peito aberto a legalidade mórbida?

Porque acordo sozinho todas as manhãs?

Um dia alguém me há-de explicar. Até agora ninguém o conseguiu.

José Carlos Lucas

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