domingo, 2 de março de 2008

Pristina é hoje a mais recente capital europeia. O novo estado – o Kosovo – dá-nos a possibilidade de traçarmos mais uma fronteira no mapa da Europa, que evolui cada vez mais de uma Europa das nações para uma Europa étnica e separatista. Porém, se andarmos para trás na história, veremos que salvo raras excepções manifestamente imperialistas (casos da Espanha, França, Inglaterra e Turquia), a verdade de uma nação tem precisamente tudo a ver com a sua cultura, língua e sentido étnico, não numa perspectiva xenófoba.

Muitas das raízes da “Grande Sérvia” estão na província do Kosovo. É um facto. Mas também não deixa de ser verdade que essas raízes foram impostas pelo Marechal Tito no primeiro quartel do século XX e que há 500 anos o Kosovo era um reino independente, primeiro tomado pela Albânia e depois pela Sérvia, posterior Jugoslávia.

Tal como se fez em África no século XIX, tentou-se após a Segunda Guerra Mundial traçar a lápis e esquadro as novas fronteiras europeias sem o devido respeito pelas nações subjugadas e que comportavam características culturais (língua, bandeira, território, tradições) que as tornavam inequivocamente independentes.

Neste momento o sentido pode ser o inverso. Por isso a independência do Kosovo é tão importante e útil para uns, mas terrivelmente ameaçadora para países que incluem nas suas fronteiras nações subjugadas pela força. A França recusa determinantemente a independência da Córsega ; a Inglaterra mantém sob o seu domínio a Escócia e a Irlanda do Norte ; a Turquia ainda pensa no antigo império Otomano e considera o povo Curdo algo que não tem direito à sua auto-preservação ; a manta de retalhos chamada Espanha, mesmo tendo a consciência que um dia terminará como a antiga Jugoslávia, mantém reféns nações cultural e historicamente tão diferentes como o País Basco e a Catalunha, cujos povos têm sido desde há muito apunhalados no seu brio e orgulho nacional.

Nós, portugueses, mantemo-nos impávidos e serenos, sem opinião formada sobre todos estes assuntos, como se da Europa só quiséssemos fazer parte para receber os vários subsídios que posteriormente esbanjamos. Esquecemo-nos que por ter havido uma corte separatista e mesmo terrorista integrada no Condado Portucalense (o Kosovo cá da zona), somos hoje não só uma nação independente, mas também o mais antigo estado europeu com fronteiras fixas desde o século XIV.

José Carlos Lucas

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