Já?
Claro que tinha sono. Tínhamos ficado a ver um DVD até tarde. Mas tinha de ser e como se diz, “o que tem de ser tem muita força”. Ainda fiquei um pouco mais na cama, onde o calor imperava. Quem tem os pés quentes nunca tem muita vontade de se levantar e eu não tinha mesmo. Apetecia enroscar-me e gozar no mínimo mais umas três horinhas de sono. Bem merecia. Mas aquele domingo estava já mais do que marcado como um dia cheio de movimento.
6:00 h da manhã.
Hum, que crime. Acordar as crianças a esta hora. Embora se tivessem deitado cedo, é sempre doloroso para dois pequenotes levantarem-se a esta hora a um domingo. Mas eu já estava de pé. Só eu. Acordei o meu filho, que ficou a olhar para mim como se questionasse o que é que se passa para estar a retirá-lo do sono e dos sonhos àquela hora. Relembrei-lhe que às 10 horas teria de estar em Sines e a irmã às 11 em Portalegre.
Toca a acordar preguiçosos, mãe incluída !
A pouco e pouco a normalidade dos hábitos de higiene foi tomando conta da casa, que se encontrava quente e acolhedora naquela Inverno um pouco mais rigoroso que o normal. 3º Celsius naquela altura e segundo os peritos “do tempo” não iríamos exceder os 9º em Lisboa e os 5º em Portalegre.
Após um pequeno almoço que como era hábito tomávamos juntos, verificámos todos os equipamentos. O meu filho – guarda redes de hóquei em patins – tinha quilos de material, mas estava tudo controlado. Desde os seus oito anos jogava nessa posição. Que lhe teria dado para escolhê-la? Quanto a mim só quem não tem nenhum juízo vai para guarda redes de hóquei. As bolas voam direito a eles como balas e quantas vezes são propositadamente rechaçadas através do capacete. Por vezes estamos atrás da baliza e todos nos baixamos quando a bola vem direita a nós, esquecendo-nos de um pormenor importante como a rede colocada para evitar isso mesmo : a ida consecutiva de espectadores para o hospital. Mas aos onze anos mais um jogo longe de casa. Normalmente eu acompanhava-o para todo o lado, mas entrou mais alguém
Partimos por volta das sete e meia da manhã, cada um para seu lado como se o futuro se adivinhasse ali naquele momento.
Pelas 18:00 horas regressamos ambos com as crianças exaustas. A minha filha tinha ganho 4 provas em 6, um resultado excelente, tendo em conta que estava presente o Sporting, campeão nacional, e nadado cerca de
O filhote “ensacou 5 golos” mas os companheiros foram gentis e marcaram 7. Vinha cansado mas feliz. Tinha-se portado muito bem e segundo um pai me telefonara, poderiam ter perdido o jogo se não fosse ele.
Muito se tinha caminhado, mas a recompensa estava presente nos olhos brilhantes dos pequenotes e nas trocas de impressões que se fizeram à mesa do jantar. Para cada um deles não havia dúvida. As respectivas equipas nada fariam se não estivessem presentes. Para nós, pais, mais uma etapa do processo de educação se tinha ultrapassado. Nesse ano, desde Outubro até Julho, percorremos milhares de quilómetros com eles, numa época esgotante mas emocionante.
Passara-se 5 anos.
Nenhum deles pratica qualquer tipo de desporto. A minha filha deixou a natação no ano seguinte e o meu filho largou o hóquei dois anos após se ter transferido para o Sporting. Ainda jogou futebol um ano. Mas parou.
A equipa familiar também se dissipou. Hoje cada um joga para o seu lado. Enquanto equipa não conseguimos analisar que internamente as regras do jogo iam sendo constantemente ultrapassadas e já ninguém caminhava para o mesmo sentido há algum tempo.
O campeonato terminou e todos descemos de divisão, cada um para a sua. As marcas e lesões deixadas na alma e no corpo vão manter-se até que o tempo se encarregue de as colocar no baú do inconsciente. Resta-nos lutar a favor dos mesmos que tão bem se exibiram naquele domingo e acima de tudo para que na “master proff” que é a vida tenham o mesmo sucesso daquele ano.
Para a outra equipa, resta uma prova dura a que corresponde um longo caminho de solidão e sofrimento. Para que um dia todos os nossos olhos voltem a ganhar o brilho de outrora, noutra dimensão e quem sabe, com outras equipas.
José Carlos Lucas
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