EPISÓDIO 1
Já vou para o meu 5º ano de presença no hi5. Desde que existe a possibilidade de nos tornarmos escritores amadores, tenho por vezes feito entradas que reflectem o meu estado de espírito no momento, ou mesmo as minhas opiniões sobre temas diversos. Hoje e porque encaro certos assuntos como fazendo parte da comunidade e não da minha pessoa, gostaria de vos contar uma pequena história. Uma história verdadeira para a qual peço antecipadamente a vossa maior atenção e sensibilidade.
12 de Junho de 1995.
A empresa não navegava em mares muitos calmos e tinha entrado um DG para fazer a limpeza no quartel. O espectro do despedimento pairava todos os dias sob as nossas cabeças e as ameaças – a maior parte delas inventadas – eram algo com que vivíamos em paralelo diariamente. Todos me diziam que desde manhã andava corado. Normalmente é bom sinal.
Véspera de Sto António, não era ainda o tempo certo para ir festejar os Santos Populares como antigamente, mais a mais com dois filhos em casa, de cinco e dois anos respectivamente. O dinheiro era curto e isso sempre foi o que me criou mais aflição, ter a noção de que não podia viver além das minhas possibilidades mas também não as ter para um período de tempo que me desse algum conforto emocional.
De qualquer das formas e porque todos já tinham saído para as tradicionais comemorações, resolvi regressar a casa. Fui dar um beijo aos meus pais que aproveitando uma velhice tranquila iam no dia seguinte para Paris numa das muitas viagens Inatel. Voltei a casa e jantei com a minha mulher e pequenitos. Sopa e um pequeno bife. Não sendo um grande adepto de sopa, tinha que dar o exemplo aos pequenos e a coisa lá tinha de marchar soubesse bem ou nem sequer conseguisse suportar o cheiro. Sempre consciente porém que a sopa é o melhor alimento que temos ao nosso dispor. Mas quando podia evitar, evitava. Naquela noite não pude e engolia de olhos fechados. Quando me fui deitar sentia-me enjoado.
Uma náusea permanente que não me deixou adormecer. Obviamente que culpei de imediato a porcaria da sopa como causa única da minha má disposição. Passei uma grande parte da noite a tentar vomitar, mas o meu corpo não é muito adepto desses desportos radicais e o esforço foi grande. Dormi muito pouco e nauseado.
13 de Junho de 1995 – Dia de Sto António
De manhã e após a ingestão de tradicional chá de limão que em princípio curaria este tipo de mazelas, fui levar os miúdos ao colégio e a minha mulher ao trabalho após o que me dirigi a casa no sentido de descansar um pouco em virtude da péssima noite. Continuava contudo cada vez mais nauseado, o que não era normal. Raio de sopa. Para além de saber mal ainda me tinha feito pior.
Passei a manhã deitado a ver os programas da manhã que por si só já enjoam. As náuseas não passavam e por vezes tinha suores frios. Esquisito. Seria possível que uma sopa tão bem confeccionada na véspera pudesse ter assim efeitos tão desastrosos no sistema digestivo de modo a provocar um mau estar tão intenso? Não entendia o que se estava a passar e planeei não almoçar. No início da tarde deslocar-me-ia ao Centro de Saúde e exporia os meus sintomas.
12:35H. Um aumento súbito das náuseas trouxe um novo sintoma : uma repentina prisão dos músculos dos braços e mãos, assim como um mau estar generalizado, implicando a não verbalização de três letras : p, r, s.
Cagaço de todo o tamanho, caí para cima da cama e todo o corpo se tolheu numa prisão muscular total. Não havia dor. Apenas um imenso mau estar. A custo arrastei-me até ao telefone e liguei para casa dos meus sogros onde a minha mulher se encontrava também a almoçar. Passados uns minutos e com a sua chegada, os sintomas começaram a dissipar-se à excepção da impossibilidade de proferir palavras com as três letras já citadas. Meteram-me no carro e dei entrada imediata na confusão que é o Hospital Garcia da Horta em Almada.
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